Abre amanhã a 1ª fase do concurso nacional de acesso ao ensino superior, com quase 54 mil vagas, mais 2.068 do que no ano passado. Infelizmente esse aumento de vagas não chega a um dos cursos que mais défice tem de profissionais em Portugal, o de Medicina. Neste momento estamos com falta de médicos, existem populações que não têm médico de família, serviços que funcionam a meio gás durante o verão ou encerram mesmo por falta de médicos,... e o Estado abre mais três vagas para o ano de 2010.
A Ordem dos Médicos, controladora desta classe profissional, considera que têm sido abertos lugares a mais naquele que é um dos cursos mais procurados, uma vez que, desde 2004, as vagas em Medicina subiram 40%, de 1.185 para 1.661. Mas o que é um facto é que os médicos existentes continuam a não chegar, e ao ritmo a que são formados daqui por 10 anos teremos um grave problema, pois os que saem (por reforma ou morte) não chegam repor a situação existente já de si deficitária. Continuando na linha do interaccionismo simbólico e do controlo por parte das ordens estruturais da profissão, sobre quem pode ou não exercer medicina, continuam os governantes a ceder a jogos de poder e ao corporativismos de instituições que a única coisa que pretendem é tirar benefício próprio para os seus associados controlando o número de vagas de acesso ao curso de medicina. O controlo que fazem em termos de universidades e respectivamente na entrada de novos estudantes para o ensino superior é assustador. As médias continuam a ser escandalosas, com a Universidade do Porto a pedir 183,7 (numa escala de 0 a 200) como nota mínima e a Universidade da Beira Interior, o estabelecimento mais recente a abrir o curso, a exigir 178,5.
Este corporativismo dos médicos fará com que mais cedo ou mais tarde passemos a ser um dos países mais atrasados em termos de cuidados de saúde. Não podem os governos deixar-se envolver nestes jogos de poder com o intuito de controlo de uma profissão. Se fazem falta mais médicos é baixarem as médias e dar a possibilidade de mais gente entrar nos cursos de medicina. É uma vergonha o que se está a passar entre a Ordem dos Médicos e o Ministério da Saúde com os acordos feitos no sentido da continuação dos médicos mesmo depois de reformados, com o pretexto de que existem serviços que fechariam caso estes médicos deixassem o activo nas instituições do Estado. Entendo que estes profissionais queiram ser bem pagos, mas não entendo como podem os mesmos controlar o acesso à profissão só com o intuito de quanto menos forem, mais prestigio, poder reivindicativo e "status" obterem perante os governantes e a população em geral.
Pergunto eu: onde fica a consciência desta gente quando começarem a morrer pessoas por falta de cuidados de saúde ??????