terça-feira, 18 de novembro de 2008

Artigo de uma amiga Professora


Transcrevo um artigo de uma querida amiga minha, professora de profissão, que achei muito interessante e que relata bem o sentimento em que vive a classe neste momento.



"A Escola Formatada de Maria de Lurdes Rodrigues"


"Os professores só poderão aceitar um modelo de avaliação cujo objectivo primeiro seja a formação, só uma avaliação formativa visando o aperfeiçoamento, científico, pedagógico e cultural dos professores fará destes, em cada dia, melhores professores e melhores pessoas, e consequentemente, só este modelo fará com que tenhamos uma melhor escola. Este pressuposto fundamental, não só, é completamente ignorado pelo o actual modelo, como foi por MLR combatido: A primeira medida de MLR, em 2005, foi suspender a formação, dizendo, sem que ninguém a processasse por difamação, que a formação que os professores tinham feito até então era fantochada. Em 2005, numa mesa redonda patrocinada pela rtp1, onde estavam entre outros, o antigo secretário geral da frenprof, MLR caluniou, impunemente, faculdades, institutos politécnicos, centros de formação e o próprio ministério (entidades promotoras de formação) e ninguém nada disse.MRL não quer que sejamos melhores professores e que tenhamos uma melhor escola. MRL quer formatar os professores a um modelo que faça deles funcionários modelados. O modelo de MRL, subjectivo e sinuoso, dar-lhe-a os elementos necessários para fundamentar as arbitrariedades que a cada momento, lhe convierem. A avaliação foi o instrumento legal que os patrões das empresas arranjaram para dispensar quem quiserem, quando quiserem. MRL cumpre o desígnio empresarial. Eis a Escola que quer para o Povo português: a escola empresa, com organização empresa, com pensamento empresa, com aprendizagem empresa. O povo português quer uma Escola de solidariedade, de conhecimento, de cultura, de igualdade na diferença.A senhora ministra travestida de anjo salvador da educação, engana mas não poderá enganar toda a gente por muito mais tempo. Que fez MRL em 3 anos?Encerrou 3000 escolas;Enclausurou milhares de crianças de tenra idade nos chamado Centros Educativos: Individualidade, identidade e afectividade tornam-se, ainda que com grande esforço dos professores, dimensões retóricas;Fomentou o desemprego e a precariedade entre os jovens professores: Impede que gente jovem chegue às Escolas, aumentando a carga horário dos mais antigos que se vêem, ao fim de 30 anos de serviço, com horários de 25 horas lectivas, acrescendo dezenas de outras inerentes aos desvarios governativos, sem qualquer proveito para os alunos, nem professores. Os Jovens professores são sub-contratados por empresas de "inglês a metro e música a quilo", encontrando-se muitos deles entregues à sua sorte, sem qualquer estrutura organizativa no âmbito laboral ou pedagógico.Fracturou a Carreira docente, fazendo surgir professores de primeira e de segunda. Pretendeu com esta medida, matar dois coelhos de um só golpe: fomentar entre os professores comportamentos desviantes da sua integridade e dimensão humanas.- (Dividir para reinar, aprendeu com Maquiavel); Arrecadar milhões, à custa do empobrecimento dos professores (afinal os milhões são necessários para alimentar os banqueiros).Como é pois, possível que tenha a ousadia de dizer que o que fez e faz é para termos uma melhor escola? Ela diz, porém já ninguém acredita. MRL continua a apresentar-se travestida de anjo salvador da educação embora, penso, por pouco tempo, uma vez que estará à espera que o pó baixe, para apresentar a Sócrates, a carta de demissão que já redigiu e que o seu defensor, penosamente cínico, aceitará. Sairá em volátil tapete vermelho, com "ministra" no currículo. Outro se seguirá que sob mando Sócrates, nada alterará, deixando tudo em lume brando, até ao momento de ter caminho livre, para novo ataque. E uma vez mais, seremos nós, o povo português, a pagar a factura, desta feita, muita elevada."

Anabela Almeida, professora que o quer ser


E digo eu: quem fala assim não é gago !!!!


1 comentário:

Maria disse...

Orlando

Permito-me passar aqui uma carta aberta de uma Professora à Ministra.
Depois podes apagar o comentário, ou divulgar a carta se o entenderes:

Carta aberta à Senhora Ministra da Educação à cerca das suas afirmações , em 12 de Novembro.

Lisboa, 12 Nov (Lusa) - A ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, afirmou hoje que qualquer "hesitação ou suspensão" do processo de avaliação de desempenho dos professores conduzirá o país para "30 anos atrás", apelando, por isso, a um esforço tendo em vista a sua concretização.
"É necessário fazer este esforço de concretização e a minha mobilização é essa, no sentido de ajudar as escolas com dificuldades. Qualquer hesitação, qualquer suspensão em relação a esta matéria levará o país para 30 anos atrás", afirmou, à saída de uma audição na Assembleia da República sobre o Orçamento de Estado do sector para 2009.

O país vai andar 30 anos para trás? O país inteiro ou só uma parte? Vai andar 30 anos para trás? Nem mais um, nem menos um? Certinhos? No litoral? No interior? Só a nível da educação ou também nos transportes, no meio ambiente, na economia… Porque vai andar para trás? Como? Quando? A que velocidade? Vai andar para trás , sem apelo nem agravo, por causa do incumprimento do processo de avaliação do desempenho dos professores?
Que raio de afirmação é esta? Que rigor tem? Em que se baseia?
“É necessário fazer um esforço de concretização” (da avaliação) … para quê? Quem ganha com isso? Não sai mais barato continuar, simplesmente, a barrar a carreira dos professores, metendo na gaveta este aberrante processo de avaliação, nunca visto em nenhum país da UE a que nos orgulhamos tanto de pertencer? Os alunos vão ser melhor ensinados por professores avaliados sob este processo? Ou pelos outros, esses nunca avaliados, sem estágios pedagógicos que começam a aparecer nas escolas a substituir os professores que, avaliados ao longo das suas carreiras, agora estafados, se reformam antecipada e penalizadoramente?

A titular da pasta da Educação questionou ainda se a suspensão da avaliação é o que o país quer: "Que se cumpra a lei ou que se suspenda a lei. Ou que se dê espaço para um clima de total ingovernabilidade, que interessa a quem quer conquistar os votos dos professores porque estamos em ano eleitoral".

A que país vai a ministra perguntar quem é ou não é pela suspensão da avaliação? À classe empresarial, a maioria fraquíssima detentora de saberes? À enorme percentagem de analfabetos funcionais que o seu sistema de ensino vem produzindo de forma assustadoramente acelerada? Aos desempregados? Aos 20% dos professores que não se manifestaram? Aos que têm medo? Aos que votaram PS nas últimas eleições?
Aos que não vão votar no PS nas próximas, num “clima de total ingovernabilidade”? A que país vai a ministra perguntar? Ao país com a educação ingovernável ou ao país ingovernável em todos os sectores?

"Se é esse o interesse de quem se manifesta, de criar um clima de ingovernabilidade para conquistar os votos dos professores, penso que não é isso que o país espera de nós", acrescentou.

A ministra acredita, sinceramente, que os professores se manifestam para “criar um clima de ingovernabilidade para conquistar os votos dos professores”? Quais votos dos professores? Dos que se manifestam ou dos outros? E para votarem em quê ou em quem? Para já, o que os professores têm votado nas suas escolas é o pedido de suspensão deste tremendo disparate que esse, sim, está a destruir rapidamente os poucos alicerces que restam ao sistema de ensino português.

Instada a comentar as declarações do deputado socialista Manuel Alegre, que terça-feira afirmou já ter perdido a paciência para lógicas do "quero, posso e mando", considerando que são insuportáveis num Governo apoiado pelo PS, Maria de Lurdes Rodrigues classificou-as como críticas e insultos.
"São um pouco críticas, um pouco insultos. Considero que o que é necessário defender é a política educativa, os factos. Recuso a atitude de reduzir a política educativa a questões laborais dos professores.

A ministra diz “recuso a atitude de reduzir a política educativa a questões laborais” !!! É exactamente o que está a fazer. Questões pedagógicas é que não existem neste modelo de avaliação! Quando o ambiente das escolas é caótico, a confusão se instala, entre normativos que dizem e desdizem, marcam e desmarcam e as escolas são responsabilizadas por “complicarem” um processo que se resume a “duas folhinhas”, os professores já nem se ralam com os seus níveis salariais. Os professores só querem paz e sossego para poderem dar as suas aulas! “Deixem-nos ensinar” Deixem-nos ser professores” Assim não se pode ensinar” – eram estas as frases que apareceram repetidamente nos cartazes empunhados nas duas manifestações nacionais. A Ministra está a impedir que os professores ensinem, ao mesmo tempo que, para poupar uns dinheiritos, impõe um modelo de avaliação importado, completamente abstruso, e arranjou uma complicação danada.

“Quando me falam em política educativa de esquerda, gosto de afirmar que a política educativa que este Governo empreende e concretiza é de esquerda, não pela retórica, mas sim pelos resultados e pela acção", afirmou.

Política de ensino de esquerda? Não pela retórica? Sim pelos resultados e pela acção? Quais resultados? Qual acção? Qual esquerda? Qual política? Os resultados são aqueles estafados e repetidos até à exaustão do aumento do número dos alunos do ensino secundário, o e-escolas mais o magalhães e a surpreendente melhoria dos resultados escolares no ano lectivo transacto? A concretização destes resultados é virtual. Não existe, simplesmente, e não há retórica que salve esta triste realidade. A constatação da falsidade absurda destes resultados é tão simples quanto deprimente.

Oh Senhora Ministra: francamente! A minha grande dúvida é se a senhora acredita mesmo nos disparates que diz! E, nem sei o que é pior – se acredita se não acredita. Mas, admitindo que esse é um problema seu, e que não me compete analisar, gostaria antes de a convidar para visitar a minha escola. Não como ministra mas como simples professora empenhada em ensinar.
E aqui está o que iria encontrar:
1. Uma escola que, até agora, cumpriu escrupulosamente as suas orientações, incluindo a entrega das fichas dos “objectivos individuais” a tempo e horas, exactamente a 29 de Setembro.
2. Uma escola em que os “professores avaliadores” frequentam ordeiramente as “acções de formação” e esperam com maior ou menor impaciência o desembrulhar do mistério da “delegação de competências” para começarem a assistir às aulas dos colegas a avaliar, munidos das respectivas fichas e grelhas e grelhas e fichas para medir, nem Deus saberá o quê.
3. Uma escola em que os professores sujeitos a avaliação (todos, não é?) se esgotam entre fichas e dossiers em duplicado, em triplicado, em preocupações infantis sobre o portfólio, os planos das aulas assistidas mais a planificação trimestral, mais a anual mais o PEE que desconhecem e o PAA de que também não sabem…enquanto as fichas dos objectivos individuais para este ano, continuam guardadas, há mês e meio, sem feed back…
4. Uma escola que hoje teve uma alegria: Um papel afixado na sala de professores com o anúncio “as aulas assistidas só têm início no mês de Janeiro”. Porquê? Não se sabe. Não está lá nada escrito. Diz-se, pelos cantos, que deve ser por causa da tal delegação de competências…
Como vê, aqui não há qualquer tipo de problemas. Corre tudo bem e parece que, até ver, nesta escola não há professores responsáveis pela criação do tal clima de ingovernabilidade! (só se for eu!!!)

Também irá encontrar “of side” da concretização do seu processo de avaliação do desempenho docente, o seguinte:

1. Professores substitutos dos professores doentes que não os substituem no serviço “não lectivo”, isto é que não os substituem no serviço da Biblioteca ou no das “substituições”. A biblioteca pode não abrir por falta de quem assegure a permanência e haverá turmas que ficam sem professor substituto se o professor da disciplina faltar. Factos que não tem a mínima importância, desde que a avaliação siga em frente, e se “cumpra a lei”
2. Turmas indisciplinadas em que os professores gastam os 90 minutos a tentar que os alunos se sentem, que não atirem papéis uns aos outros, que escrevam algo nos cadernos, as mais das vezes sem sucesso (talvez depois de avaliados, consigam dar uma aula em condições)
3. Nenhum tempo disponível para se discutirem os problemas reais da escola e organizar processos de ensino-aprendizagem eficazes.
4. Cursos EFA – do secundário (sem comentários); Cursos CEF e Profissionais (aspas, aspas); numeroso grupo de alunos no 3.º ciclo e 10.º ano do secundário que foram parar ao ano que frequentam, certamente por milagre porque pelo grau dos seus saberes, não foi, de certeza.
5. Um mau estar perto do insuportável com professores assarapantados, nervosos e estafados, receosos de seguir o exemplo das escolas que já se decidiram pelo pedido de suspensão do processo de avaliação. Zangas e discussões no seio de reuniões de departamento e de conselhos de turma. Desconfianças fundadas ou infundadas de uns em relação aos outros.
6. Debandada dos professores que, mesmo penalizados, optaram por pedir a reforma antecipada.

Resto eu, com a estranha sensação de ser a única a ver, como a personagem do “Ensaio sobre a Cegueira” do Saramago. Eu que sou a única professora da escola em condições de pedir a reforma sem penalização e não o consigo fazer por não achar decente deixar os alunos que tento ensinar desde o início do ano e por não achar decente levar o meu olhar para longe deste caos.
Acha esquisito, Senhora Ministra? É normal que ache!
No próximo dia 14, numa reunião de professores, solicitada através de um abaixo-assinado com mais de 2/3 dos professores da Escola, se o medo desaparecer da cabeça dos meus colegas, lá votaremos o tal pedido de suspensão e engrossaremos o número das escolas que já o fizeram. Por mim, claro, voto SIM!
Já lhe passou pela cabeça obrigar à reforma compulsiva os professores que, como eu, facilmente poderão ser considerados responsáveis pela criação do tal clima de ingovernabilidade? É verdade que me retiraria o direito de ser avaliada, como deve de ser, ao fim de 37 anos de trabalho mas, como todos nós sabemos, tudo tem um preço. E, já agora, outra sugestão: que tal mandar-nos para a Madeira? Livrava-se de nós e, em contrapartida, nós ganhávamos um bom na avaliação!

Natália Bravo – Professora titular da Escola Secundária Fernando Namora – Brandoa - Amadora

Um beijo
(isto vai, Amigo, isto vai!)